Alguma vez já entraste num lugar abandonado e sentiste um arrepio, uma presença invisível que parece estar contigo? Entrar num espaço vazio, com paredes gastas, silêncio e uma luz diferente é quase sempre uma experiência que fica na memória. O ar pesa, os cheiros mudam e surgem sensações no corpo e na cabeça que vão para além do desconforto físico. Muitas pessoas que passaram por isso falam de um olhar que sentem, uma energia que não se vê mas que permanece ali, como se o lugar guardasse algo que não conseguimos perceber. Mas afinal, o que está por trás dessa energia que fica em certos lugares abandonados?
Do ponto de vista da ciência, parte da explicação está nos campos magnéticos e elétricos que podem existir nesses locais. Com o tempo, as estruturas degradam-se, os materiais gastam-se e os sistemas elétricos antigos podem causar perturbações no ambiente. Estudos mostram que campos magnéticos fortes influenciam o nosso cérebro, principalmente nas zonas ligadas à percepção e à emoção. Por isso, em certos lugares, podemos sentir inquietação, ver sombras ou ter a sensação de presenças que não estão lá fisicamente.
Além disso, a psicologia ambiental mostra que o nosso cérebro interpreta esses sinais com base no que já vivemos e nas memórias que temos. Em lugares com pouca luz, sons estranhos e isolamento, a nossa cabeça acaba por aumentar essas sensações, criando um ambiente de mistério ou medo. É um mecanismo natural de defesa, mas que também pode misturar o que é real com o que a imaginação cria.
Mas há algo mais para além da ciência. Muitas culturas e tradições acreditam que os lugares podem guardar as emoções, acontecimentos e vibrações das pessoas que por ali passaram. Essa “memória ambiental” funciona como um registo energético do passado, que pode ser sentido por quem é mais sensível ou tem experiências espirituais.
Em Portugal, há vários exemplos disso. O Convento de São Francisco em Coimbra é um desses lugares, onde quem visita sente uma mistura de calma e uma tristeza profunda, como se o passado ainda estivesse presente. A antiga Fábrica de Cerâmica do Rato, em Lisboa, tem ruínas onde há relatos de sons e vozes que parecem vir de tempos antigos, ligados aos trabalhadores que ali passaram. O Mosteiro de Tibães, em Braga, parcialmente abandonado, é outro local onde muitas pessoas sentem uma presença espiritual forte, ligada à história religiosa do sítio.
Estas experiências não são, na maior parte das vezes, assustadoras. Quem sente essas presenças fala de uma ligação, como se estivesse em contacto com algo maior, uma energia que ultrapassa o tempo. É a sensação de estar dentro da história, de perceber o que ficou guardado ali, mesmo sem palavras.
Quando juntamos ciência e espiritualidade, vemos que a energia dos lugares abandonados é algo complicado. Não é só campos magnéticos ou ilusões da mente, mas talvez diferentes camadas da realidade, onde o passado aparece no presente de forma discreta. Essa mistura cria uma atmosfera difícil de ignorar, que nos faz querer olhar para mais do que só o que está à frente.
Muita gente procura estes sítios por essa mesma razão. Para uns é uma aventura, um desafio; para outros, uma forma de se ligarem a histórias esquecidas e a emoções humanas que continuam a mexer naquele espaço. Seja qual for o motivo, entrar num lugar abandonado pode ser uma oportunidade para pensar no que é real, no que é energia e em como essas duas coisas se cruzam na nossa vida.
Visitar estes lugares não é só andar por prédios vazios ou ruínas. É sentir uma ligação com tudo aquilo que já aconteceu ali, mesmo que não se veja nada. É perceber que há algo no ambiente que mexe connosco, que está lá por causa das pessoas que passaram por ali e do que viveram. Por isso, quando entras num lugar abandonado, não estás só a olhar para paredes vazias. Estás a sentir uma parte da história que ficou guardada naquele sítio, mesmo que não seja falada ou vista. É isso que torna a experiência diferente e, para muita gente, marcante.