Cancro do pulmão – Nova forma de o combater
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As células humanas contêm 48 proteínas que dependem de complexos de ferro e enxofre para funcionar. Desfeitos sempre que encontram oxigénio, esses aglomerados de ferro e enxofre devem ser constantemente substituídos para que as células normais sobrevivam em ambientes com níveis elevados de oxigénio, como os pulmões, e ainda mais se as células do cancro do pulmão crescerem com velocidade anormal.
Este estudo do Centro de Cancro Perlmutter da Universidade de Nova Iorque (NYU), publicado na revista Nature, mostra que as células do adenocarcinoma do pulmão sobrevivem a essa ameaça do oxigénio através da produção de uma maior quantidade de uma proteína chamada NFS1, que colhe enxofre do aminoácido cisteína para produzir aglomerados de ferro e enxofre. Os investigadores também descobriram que as células de cancro da mama que se espalharam para os pulmões desencadeiam a produção de NFS1 ao chegarem a um ambiente com muito oxigénio, enquanto as células que permanecem na mama não o fazem.
“Os nossos dados apoiam a ideia de que o NFS1 tem um papel central na protecção das células cancerosas contra o oxigénio e esperamos encontrar formas de contrariar esse papel”, diz o autor principal do estudo Richard Possemato, professor assistente do Departamento de Patologia da Escola de Medicina da NYU.
Usando um truque genético, a equipa de investigadores usou a molécula ARN com estrutura em gancho curto para desligar, um a um, 2.752 genes relacionados com o metabolismo celular, incluindo a bioquímica do ferro e enxofre. Eles descobriram que muitos genes que eram essenciais para a sobrevivência em níveis elevados de oxigénio não eram tão importantes em baixos níveis.
A proteína NFS1 pode ser vital para a sobrevivência das células do cancro do pulmão de duas maneiras, dizem os autores. Se a NFS1 não estiver suficientemente activa para acompanhar a destruição mediada pelo oxigénio dos aglomerados de ferro e enxofre, as células cancerígenas podem ficar sem blocos-chave de construção de proteínas importantes e simplesmente parar de se multiplicar, descobriram os investigadores.
Em alternativa, o número de aglomerados de ferro-enxofre pode servir como um sensor dos níveis de ferro. Quando os aglomerados passam a ser em baixo número, dizem os autores, as células “pensam” que têm falta de ferro e libertam mais das moléculas que o armazenam. Em estudos de células de cancro cultivadas, a equipa do Centro de Cancro Perlmutter descobriu que essa acumulação de ferro “livre” causa a produção de espécies reactivas de oxigénio (ROS, na sua sigla em inglês) que danificam as membranas celulares e desencadeiam um tipo de morte celular chamada ferroptose.
Os autores observam que serão necessários futuros trabalhos para confirmar esse efeito em animais e que o próximo trabalho da equipa será o de rastrear compostos experimentais que bloqueiem a capacidade da proteína NFS1 de alimentar a produção de aglomerados de ferro-enxofre.
Estudo publicado na “Nature”
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