Há dias em que nada parece acontecer.
Talvez seja apenas o Universo a ganhar fôlego.
No silêncio, a alma cose-se por dentro,
ponto a ponto, remendando os rasgos antigos.
Mas não há pressa.
Porque a vida conhece o seu próprio tempo,
a sua dança, o seu ritmo.
Deixo que o vento atravesse esta alma vazia
como quem varre o chão de uma casa adormecida.
Deixo que o tempo me ensine,
que a maré me encontre pronto
quando chegar a hora de partir.
Porque até as ondas mais fortes
precisam de um instante de quietude,
de um fôlego,
antes de regressarem ao mar.
E talvez, quando o mar regressar,
não traga apenas as ondas…
mas também aquilo que esteve guardado durante tanto tempo,
e que agora se solta no ar,
como o voo inesperado de um pássaro sobre o horizonte.