ESCÂNDALO: Escravidão em supermercado português
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No mês de Maio de 2020 a Maria*, uma cidadã Portuguesa que actualmente vive em França, decidiu procurar um novo emprego. Inscreveu-se na plataforma de empregos “indeed” e encontrou um anúncio para a função de vendedor polivalente no supermercado “LES MERVEILLES DU PORTUGAL” em Brétigny-sur-Orge (91) – Paris (Link do Facebook aqui, outro facebook, instagram aqui) [prova 1 abaixo]. Decidiu enviar a sua candidatura e no mesmo dia recebeu uma resposta da Sra. Stéphanie Mourão, para fazer uma entrevista no dia seguinte [prova 1.2 abaixo].
No dia da entrevista foi-lhe explicado que, devido a problemas com a equipa existente, estavam a recrutar pessoas para formar uma equipa totalmente nova no sentido de dar um novo rumo ao supermercado. O horário de trabalho seriam 40 horas semanais, das 9h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00. Com contrato de trabalho e horas suplementares pagas à parte [prova 2 abaixo].
Como a Maria ainda estava noutro emprego, decidiu demitir-se para abraçar este novo desafio no supermercado “LES MERVEILLES DU PORTUGAL“, estando a Sra. Stéphanie a par de toda esta situação. Não foram levantados quaisquer problemas com esta questão e até incentivou a Maria a se demitir.
A Sra. Stéphanie ficou de enviar os horários de trabalho, que só comunicou por SMS que a Maria iniciaria na Quinta-feira às 9h00 [prova 3 abaixo].
Assim foi. Quinta-feira estava a Maria no local de trabalho pronta para começar. Tudo parecia que ia correr bem, quando começam os gritos para a Maria pelos seus colegas de trabalho, não podia fazer pausas para comer, sendo que lhe foi dito que “ali” não haviam leis e quem queria trabalhar tinha de ser assim. Nesse dia, a Maria trabalhou as 9h00 às 14h20 e das 14h50 às 21h30. Num só dia a Maria trabalhou 12 horas com apenas 30 minutos de pausa para almoço. Se a lei prevê que a cada turno de 4h de trabalho, todos os trabalhadores têm direito a uma pausa de 10 minutos, esta situação foi negada à Maria. Também não lhe foi dado o contrato de trabalho para assinar. Mais tarde percebeu que estaria ali para trabalhar “ao negro”, fora da lei.
Neste primeiro dia a Maria sofreu de assédio moral, trabalho escravo, desrespeito pela lei e pressão por parte dos colegas de trabalho e parte patronal. Contactou por diversas vezes a pessoa que a “contratou”, a Sra. Stéphanie que nunca esteve disponível [prova 4 abaixo].
Neste primeiro dia de trabalho a Maria chegou ao final do dia com os pés cheios de bolhas porque o calçado que lhe foi fornecido para trabalhar estava demasiado grande, não lhe sendo atribuído o equipamento adequado para trabalhar.
No segundo dia a Maria voltou a pedir à Sra. Stéphanie que lhe ligasse para que pudessem falar e esclarecer alguns pontos acerca do trabalho [prova 4 abaixo]. Novamente sem qualquer resposta da Sra. Stéphanie. Na cabeça da Maria começou a soar alguns alarmes. Não havia contrato de trabalho para assinar, o trabalho escravo, o não cumprimento das leis do trabalho, etc. Ainda assim decidiu iniciar o seu turno de trabalho. Voltou a sofrer de pressão por parte dos restantes, assédio moral, trabalho escravo e desrespeito pela lei. No fecho do supermercado para almoço a Maria pediu permissão para fazer uma pausa de 5 minutos que lhe foi negada e dito que pausas só depois das limpezas e arrumações concluídas.
Assim não era suportável. A Maria já estava com os pés em sangue, devido ao equipamento desadequado, não lhe era permitido fazer uma pausa necessária para as suas necessidades básicas, e sem qualquer respeito pela pessoa humana que ali estava. Decidiu ir-se embora. Totalmente esgotada mental e fisicamente por tudo o que suportou neste dia e meio de trabalho. Uma vez que a Sra. Stéphanie continuava sem responder ao pedido de contacto, a Maria enviou-lhe um SMS [prova 5 abaixo] a informar da situação que viveu, que já não aguentava voltar a ir trabalhar e a solicitar o envio do cheque de pagamento das horas efectuadas. Passados vários dias, a Sra. Stéphanie continua sem dar qualquer resposta ou telefonema. Se o pagamento devido não for enviado à Sra. Maria, vamos actualizar essa informação neste post.
A Maria vai proceder a uma queixa nas autoridades competentes, porque o que se passou neste supermercado tem, efectivamente, de ser punido.
Não podemos permitir que esta corja da sociedade continue a fazer o que bem entende, escravizando os funcionários, desrespeitando as leis e os direitos fundamentais dos trabalhadores sem sofrer as consequências.
O crime de escravidão é aquilo que mais derroga a dignidade de um ser humano. É um crime de homicídio moral e existencial.
No mundo do trabalho não pode ser o “vale tudo”. Tem de haver regras. Hoje foi a Maria. Amanhã podemos ser nós. Eu não consigo conceber a ideia de continuar a viver num mundo de patrões que escravizam os seus funcionários, em pleno séc. XXI. A evolução da humanidade não pode passar por isto.
Ajude-nos a partilhar esta história para que outras pessoas não tenham que passar por esta dura realidade.
Quanto a mim, vou continuar a lutar pelos direitos de todos. Direitos básicos da nossa vida.
[Actualização de 05/06/2020]: Várias são as pessoas que, nas redes sociais, estão indignadas com esta situação e, por sua iniciativa, decidem fazer comentários nas páginas de Facebook deste supermercado. No entanto, temos verificado que o/a gestor da página remove os comentários e bloqueia as pessoas.
[Actualização de 06/06/2020]: Com o passar das horas, e de milhares de partilhas e comentários pelas redes sociais, temos descoberto que muitas outras pessoas passaram pelo mesmo que a Maria, ou pior, neste supermercado.
[2ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie enviou um SMS [prova 6 abaixo] à Maria com ameaça de queixa contra esta. Fica aqui a informação para a Sra. Stéphanie de que VAMOS CONTINUAR ESTA LUTA, pelos direitos de todos. E já que a Sra. Stéphanie se sente discriminada com tão pouco, devia ter mais atenção ao que se passa na empresa dela. Devia ter vergonha na cara – coisa que pelo visto não tem.
[3ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie tentou entrar em contacto com o meu perfil privado [prova 7 abaixo] novamente com ameaças de queixa.
[4ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie enviou-nos um e-mail a ameaçar com uma queixa por difamação a mim e à Maria*. Foi fornecido o direito de resposta à Sra. Stéphanie.
[5ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie respondeu ao nosso e-mail, novamente com ameaças. Como não nos enviou o seu direito de resposta, fica então registado que a Sra. Stéphanie recusou o direito de resposta.
[6ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie respondeu ao nosso e-mail, com o direito de resposta. Este direito de resposta apenas eram dois ficheiros em imagem contendo dados pessoais da vítima. Naturalmente que não o podemos partilhar, uma vez que devido ao Regulamento Geral de Protecção de Dados, não é permitida a divulgação de dados pessoais. O mais estranho é que a Sra. Stéphanie enviou-me os dados pessoais de outra pessoa. Isto deverá ser considerado aceitável?
[7ª actualização de 06/06/2020]: A Sra. Stéphanie enviou-nos novamente outro e-mail com ameaças.
[8ª actualização de 07/06/2020]: Continuam a chegar-nos imensas mensagens de ex-funcionários dispostos a denunciar situações idênticas que viveram neste supermercado.
[9ª actualização de 13/06/2020]: A Sra. Stéphanie enviou uma SMS no dia 05/06 a indicar que o pagamento da Maria seria enviado nesse dia [prova 8 abaixo]. No dia 08/06 envia SMS à Maria a solicitar o RIB/IBAN. A Maria enviou as informações solicitadas e a Sra. Stéphanie respondeu a dizer que o pagamento tinha sido enviado no dia 09/06 [prova 9 abaixo]. Ou seja, está a admitir que enganou a Maria ao dizer que o pagamento já teria sido enviado no dia 05/06. Até à hora da edição deste artigo (13/06/2020 18h30) o cheque não foi recebido. Após a Maria contactar novamente a Sra. Stéphanie, esta diz que o cheque foi enviado em correio registado no dia 09/06 [prova 10 abaixo], mas que como não está a trabalhar, na Terça-feira enviará o número de registo da carta. Assim que o pagamento for recebido, actualizaremos este artigo.
[10ª actualização de 22/06/2020]: A Maria recebeu o cheque com o pagamento.
Obrigado à Maria pela coragem da partilha da sua história.
#diganãoaotrabalhoescravo #trabalhoescravonão
*Nome alterado a pedido da testemunha
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