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Quem sou eu? A resposta budista a esta pergunta intrigante

Tempo estimado de leitura: 6 minutos

“Quem sou eu?”

Quase todos nós já meditámos sobre esta questão, seja enquanto estávamos deitados na cama, ou num encontro em que a outra pessoa nos fez esta questão.

Algumas pessoas acham que têm uma compreensão muito forte sobre quem elas são, enquanto outras continuam a “mastigar” esta questão para que consigam encontrar uma resposta espiritual.

Se você tiver dificuldade em encontrar uma resposta sólida a esta pergunta, o conceito budista de Anatta, ou “não-eu”, pode ser do seu interesse.

Basicamente, é a ideia de que não existe, de facto, um “eu”.

Vamos mergulhar um pouco mais fundo sobre esta questão.

 

Quem você realmente é?
Reserve um momento para pensar o que faz de si a pessoa que é.

É a sua pele? O seu corpo? As suas características faciais? A sua personalidade?

Se a sua resposta é olhar ao espelho, identificando-se com um corpo que você vê no reflexo, reserve um momento para considerar que a maioria das células do seu corpo estão constantemente a morrer e a regenerar.

Os glóbulos vermelhos duram apenas alguns meses; portanto, o sangue que corre nas suas veias neste momento não é o mesmo sangue que estará a circular daqui a um ano.

Algumas células demoram um pouco mais, mas o nosso corpo está em constante estado de mudança.

Se você fosse submetido a uma cirurgia plástica para alterar algumas das características faciais, ainda seria você?

Que tal se se bronzear? Ou uma doença como vitiligo, que faz a sua pele perder pigmentação? E se você perder um membro do corpo num acidente?

Vamos considerar os seus pensamentos, a suas opiniões e as suas preferências pessoais. Você tem os mesmos pensamentos a cada momento da sua vida? Os seus interesses e tendências mudaram ao longo dos anos? Segue a mesma religião em que foi criado ou optou por seguir um caminho diferente?

Se o seu corpo e os seus pensamentos mudaram tanto, quem você é exactamente?

 

Skandhas: os cinco agregados
No budismo, skandhas, refere-se a cinco factores que compõem a existência de um ser humano senciente.

Estes são:
Rupa (forma material): a matéria que foi combinada para criar a forma temporário do Ser.
Vedana (sensação): Sensações associadas a essa forma, como o prazer e dor.
Samjna/sañña (percepção): percepções, como reconhecimento e identificação de um objecto com base nas sensações.
Sankhara (formação mental): pensamentos, ideias, a “impressão” das coisas.
Vijnana/viññana (consciência): consciência e percepção

São fundidos num ser humano individual para criar um todo, mas estão em constante mudança.

Cada um é efémero, de modo que cada ser humano pode parecer sólido, pode se comunicar, sentir fome e ter pensamentos interessantes sobre o mundo ao seu redor, mas todos os aspectos mudam num piscar de olhos.

Não existe uma integridade constante e duradoura do “eu”, mas apenas uma coesão temporária e sem substância, feita de partes que se dissiparão novamente em breve.

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Isso esclarece alguma coisa? Ou apenas cria mais confusão?

 

O oceano paralelo
Uma das melhores formas de explicar as coisas é pensar no oceano. Pense nisso por um momento.

Quando uma pessoa comum pensa no oceano, sente que tem uma boa compreensão do que este é. O oceano é um grande corpo de água, certo? As pessoas nadam nele, os barcos navegam no oceano, e aparecem em inúmeros postais e fotografias ao redor do mundo.

Tudo bem, é o oceano. Todos nós sabemos disso. Mas é muito mais do que isso. O que chamamos de oceano é apenas uma aparência externa, cheio de ondas e espuma brilhante.

A água no oceano é impermanente: é preenchida pela chuva. Moléculas de água que viajaram ao redor do mundo, através de lençóis freáticos subterrâneos ou através do xilema das árvores e que escorre pelos rios e canais. É composta de todas as partículas que flutuam em torno das suas moléculas, abriga inúmeros animais e plantas que nascem, vivem e morrem a cada momento.

É impermanente e está em constante mudança. Muito parecido connosco. Este planeta já foi coberto de água e os oceanos já agitam há mais de 4 mil milhões de anos. O oceano dessa altura é o mesmo que vemos hoje? Não. E, no entanto, é o oceano.

 

Eu espiritual VS eu nenhum
Para muitas pessoas, a ideia que têm acerca de si próprias refere-se à ideia de uma alma: a sua natureza espiritual/energética que permaneceu constante ao longo das suas vidas.

Aqueles que acreditam na reencarnação podem acreditar que esse “eu” da alma surgiu há mil milhões de anos atrás, e têm experimentado a existência de diferentes formas desde o início dos tempos.

Vamos voltar ao oceano sobre o qual estávamos a falar e vamos imaginar que alguém pega um copo e o enche com água do oceano. Esta água representa uma vida humana. O conceito hindu de reencarnação consistiria na água que flui de um copo para outro, e depois outro, de todas as formas e feitios (copos, canecas, chávenas, baldes, sapatos, etc.).

O conceito de Anatta é bem diferente. Voltando novamente ao oceano, todos os pensamentos e partículas que compunham um senciente acabam por se dispersar, como se estivéssemos a derramar aquele copo de água de volta ao oceano. Se o renascimento acontece, é uma situação de outro copo a mergulhar no oceano para ser enchido novamente.

Pode haver algumas moléculas e partículas do copo anterior neste novo, mas é completamente diferente do anterior. Ao mesmo tempo, ainda é a água do oceano, certo? Ainda é o oceano num único copo.

O conceito pode ser bastante estonteante, mas é realmente bom para estarmos cientes da unicidade de todas as outras vidas neste planeta. Que somos todos criaturas efémeras e temporárias, compostas de tudo o que sempre foi e sempre será.

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Além disso, permite-nos abandonar todos os tipos de sofrimento (ou Dukkha) relacionados ao ego, desejos e aversões.

 

Abandonar o apego ao “EU SOU”
É muito difícil para a maioria das pessoas entender a ideia de não haver um “eu” para se identificarem. Afinal, desde o primeiro dia, somos designados por um nome que nos foi atribuído, desenvolvemos preferências alimentares e cores favoritas, descobrimos assuntos que nos fascinam e seguimos profissões que nos envolvem.

Como tal, de repente depararmo-nos com a ideia que tudo isso é uma ilusão pode variar e ser alucinante e aterrorizante.

Estamos acostumados a descrevermo-nos de inúmeras maneiras, desde os rótulos que nos definem pelo nascimento ou pela educação, até a identificação de doenças e tipos de vitimização.

Eu sou um advogado.
Eu sou músico.
Eu sou conde/condessa.
Eu sou um sobrevivente da doença.
Eu sou pai/mãe.
Eu sou um paciente psiquiátrico.
Eu sou doutorado.

Bem, todos esses rótulos são aspectos do “eu” temporário, mas se não houver um “eu”, todos esses rótulos serão discutíveis. Também podemos tentar rotular o vento.

Se não existe um “eu”… então de que se trata toda esta existência hilariante? Qual é o objectivo?

O ponto, em última análise, é apenas ser.

Para experimentar e viver o momento e, em seguida, deixá-lo ir, sem se apegar a uma coisa ou outra, já que, de qualquer maneira, tudo vai mudar em apenas um segundo.

Há uma paz e tranquilidade notáveis quando nos permitimos abandonar as obsessões motivadas pelo ego e habitar nesse espaço vazio entre os batimentos cardíacos.

Da próxima vez que alguém lhe perguntar quem você é, responda dizendo “eu sou”, pois esta é a única resposta verdadeira e precisa que você pode dar.

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rickyunic

Um projecto com mais de 19 anos, onde apresento e abordo assuntos que me interessam a cada momento da vida. Desde humor, a saúde, passando pela tecnologia, a sexualidade e a espiritualidade. Tudo é válido neste espaço. Conto consigo para passar um bom momento a dois. Peace and Love. Carpe diem. Namastê.

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